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segunda-feira, 23 de março de 2009

HISTÓRIA DO HEAVY METAL EM PORTUGAL

A AMIZADE COM O LAAZ É VIRTUAL MAS EXTREMAMENTE RICA. POR CONTA DE UM PROGRAMA QUE ELE MANTINHA NUMA RÁDIO FIQUEI CURIOSO EM SABER SOBRE O METAL PORTUGUÊS PARA ALÉM DAS BANDAS CONHECIDAS E TIVE UMA GRATA SURPRESA DE ENCONTRAR ESSA MATÉRIA A QUAL REPRODUZO PARA VOCÊ.

CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA DO HEAVY METAL EM PORTUGAL



POSTAGEM ORIGINAL:
http://metalurgiasonora.blogs.sapo.pt/24654.html

O panorama metaleiro português não foi sempre prolífero como o vem sendo desde há alguns para cá. O seu início foi algo complicado e o seu desenvolvimento relativamente lento, enfrentando ainda nos dias de hoje algumas barreiras e dificuldades difíceis de ultrapassar.
O movimento metaleiro a nível internacional surgiu na década de 70, tendo o seu primeiro grande impulso nos finais da mesma década com a explosão do New Wave of British Heavy Metal (N.W.O.B.H.M), que tal como o nome indica teve o seu epicentro na Inglaterra, espelhando-se posteriormente a nível mundial. Na década seguinte surgem novas vagas dentro do Heavy Metal, com a Alemanha a assumir um papel de destaque, juntamente com os Estados Unidos da América onde a Bay Área de São Francisco assiste ao surgimento Trash Metal.
No entanto, em finais da década de 70, apesar dos ventos revolucionários que ainda bafejavam, eram poucos os que em Portugal conheciam a expressão «Heavy Metal», as bandas portuguesas eram poucas e o mercado discográfico não demonstrava qualquer interesse por este estilo musical. Por outro lado afigurava-se complicado adquirir os discos das bandas mais conceituadas da altura: Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple, AC/DC, UFO, entre outras. Para tal era necessário recorrer a alfarrabistas ou às vendas postais estrangeiras.
Nesta época de viragem de décadas ainda não se pode falar verdadeiramente num movimento nacional deste movimento cultural e musical. Dois nomes sobressaem desta altura proeminentes do chamado boom do rock português dos anos 80: NZZN e Roxigénio, pela influência que posteriormente irão ter noutros colectivos. Para muitos os NZZN são a banda pioneira do metal português, lançando mesmo um single em 1980 - "Vem Daí" - alcançando relativo sucesso e chegando ao nº 1 do top de preferências do famoso programa radiofónico "Rock em Stock".
Os Roxigénio estrearam-se no Pavilhão Académico do Porto em 9 de Maio de 1980. A banda de António Garcez foi muito bem recebida, de tal forma que no final desse mesmo ano lança o seu álbum homónimo de estreia. Dessa formação faziam parte Filipe Mendes (ex-Chinchilas e Heavy Band, considerado por muitos o melhor guitarrista à época), José Aguiar no baixo e o baterista brasileiro Betto Palumbo. Cantando em inglês e explorando um som claramente heavy metal conseguem alguma exposição radiofónica e ainda actuam em Vilar de Mouros. Ainda editam um segundo disco em 1981 - "Rock 'n Roll Men" - mas algumas mudanças de formação levam ao fim pouco tempo depois.
Por esta altura e nos anos seguintes começam a surgir novas bandas. No Porto surgem os Mac-Zac (dos irmãos Paulo e Luís Barros, hoje nos Tarântula), Xeque-Mate, Ferro & Fogo e Jarojupe. Mais a Sul, na zona de Lisboa aparecem os Valium, STS e Sepulcro. A maioria destas bandas inspira-se, um pouco como acontece por toda a Europa, no recente movimento do N.W.O.B.H.M. acabando algumas por mudar de sonoridade nos anos seguintes ou por se desintegrarem.
A nível radiofónico destaca-se o mítico Lança Chamas de António Sérgio emitido aos Sábados à tarde. A acompanhar António Sérgio neste programa de culto estavam Paulo Fernandes e Gustavo Vidal, dois dos principais impulsionadores do programa. A Rádio Comercial tenta cortar o programa por duas vezes, mas a afluência de cartas que chega aos seus estúdios leva a direcção de programas a voltar atrás. Este programa acaba por ter uma influência significativa no desenvolvimento e divulgação deste movimento.
Um pouco por todo o país, em especial na segunda metade da década de 80, surgem rádios piratas com os seus programas de música pesada realizados por curiosos que rodavam o que por cá se fazia ou alguns discos importados ocasionalmente. Este fenómeno levou a que muitas bandas gravassem demo-tapes, muitas vezes de um só tema face às suas limitações financeiras, para que se dessem a conhecer ao público através desses programas radiofónicos.
Em 15 de Dezembro de 1984, em Santo António de Cavaleiros, realiza-se aquele que é conhecido como o primeiro festival português de Heavy Metal que contou com as participações dos Tarântula, Xeque-Mate, STS Paranoid entre outras bandas. Noutra vertente, em Lisboa a Rock Rendez Vous já albergava matinés dedicadas aos sons mais pesados, com os STS Paranoid a demonstrarem serem a banda mais popular da capital. A 4 de Outubro de 1986 realiza-se o Metal Stage, no Cine Plaza da Amadora com Cruise, Valium, Satan's Saints e STS Paranoid.


A segunda metade da década de 80 regista um aumento da actividade metaleira nacional. Este crescente movimento reflecte-se no aparecimento de novas bandas e de novos fãs, no surgimento das primeiras fanzines e no surgimento de um grande número de programas radiofónicos.
Um pouco ao estilo do já citado Lança Chamas, surgem em quase todas as rádios locais um programa dedicado ao sons mais pesados, geralmente realizados por curiosos e amantes do estilo que passavam aquilo que se fazia e chegava a Portugal, e em alguns casos mesmo, material importado. Este boom de programas de rádio está intimamente ligado ao aparecimento numeroso de bandas nacionais que vêm nesses programas uma forma de divulgarem o seu som através das maquetas gravadas em estúdios ou na própria garagem onde ensaiavam.
Nesta época surgem bandas como os Ibéria, Satan's Saints, Black Cross, Cruise, Alkateya (que recentemente regressaram), Sepulcro que juntamente com outras como os Tão, Valium (mais tarde Casablanca), CommeRretus, W.A.D.S., Devil Across, Procyon, Vasco da Gama e Massive Roar formam já um número assinalável de agrupamentos a tocar diversos estilos de metal que vão desde o Rock FM até ao Black Metal, passando pelo Glam, Doom, Speed e Trash Metal.
No Norte começa também a surgir um movimento com algum interesse. Os Tarântula gravam o seu primeiro álbum homónimo em 1987 e outras bandas como os Dove, Web e Metal Brains começam a destacar-se. A partir de 1987 surge também um movimento algo interessante na margem Sul do Tejo com bandas como Brainded, Thormentor e The Coven.
Das bandas referenciadas anteriormente, algumas merecem algum destaque.
Os lisbonenses Alkateya, formados por Beto (ex-Sepulcro), gravaram três maquetas entre 1986 e 1990, realizando mesmo uma digressão nacional. Após o lançamento da terceira maqueta surgiu a tão ambicionada oportunidade de gravar um álbum, mas essa oportunidade acabou por não se verificar, o que levou ao fim da banda. Regressam em Junho de 2003 para uma edição de autor em CD das três demos lançadas na primeira fase da sua carreira, encontrando-se actualmente a preparar novos temas para a edição de um álbum a ser lançado por uma editora nacional ou estrangeira. Entretanto, o fundador da banda - Beto - abandonou a mesma para iniciar um projecto musical a solo.
Os nortenhos Tarântula, no activo desde 1981 (se bem que nem sempre com o mesmo nome), editam o seu primeiro álbum em 1987, seguindo-se três anos depois o muito aclamado "Kingdom of Lusitânia" que quase levou a banda a assinar por uma editora estrangeira. Tal contrato não chegou a concretizar-se, acabando o mesmo por acontecer em 1999 com o álbum "Light Beyond The Dark". Pelo meio ficaram dois álbuns editados por pequenas editoras nacionais independentes, seguindo-se depois da estreia internacional "Dream Maker" e "Metalmorphosis".
Os Thormentor, pioneiros de Death Metal em Portugal liderados por Miguel Fonseca, ganham prestígio interno graças à gravação de três maquetas, chegando a editar um single em 1991 ("Dissolved in Absurd").
Em 1994 lançam o álbum "Abstact Divinity", mas problemas editoriais e de instabilidade no seio da banda precipita o fim da mesma, apesar de algumas aparições espontâneas em alguns palcos de Almada.
Em 1987 surgem os V12 de Rui Fingers, Raf Maya, Paulo Ossos, Zé Paulo e Beto Garcia, que gravam imediatamente uma maqueta acolhida de uma forma muito positiva. Logo a seguir desaparecem por algum tempo, reaparecendo em 1990 com um novo vocalista e o álbum homónimo de estreia lançado pela multinacional Polygram, demonstrando o interesse que este estilo começava a despertar nas grandes editoras nacionais.
Mesmo no final da década de 80, Rui Duarte forma em 1989 no Seixal os Ramp. A banda ainda no activo torna-se numa das mais importantes bandas do Metal lusitano, iniciando o seu percurso discográfico em 1992 com o mini-LP "Thougths" em formato CD lançado também pela Polygram. Desde essa altura até hoje a banda já deu inúmeros concertos em Portugal e alguns no estrangeiro e lançou 3 álbuns de estúdio, um duplo álbum ao vivo e o recente EP "Anjinho da Guarda".
Se os anos 80 viram surgir muitas bandas, também assistiu ao fim de outras como os Cruise, Sepulcro e Blizzard, enquanto outras prenunciavam o mesmo destino: STS Paranoid, Satan's Saints e Devil Across.
Apesar de tudo, a partir de meados de 80 assiste-se a um desenvolvimento no espectro musical metaleiro, com o surgimento dos fãs-clubes que serviam de ponto de encontro para a troca de informações e gravações, funcionando a par das rádios como meio de divulgação através das fanzines aí publicadas. Por outro lado tinha-se tornado mais fácil ter acesso ao que por lá fora se fazia em matéria de Heavy Metal, com os lançamentos mais importantes a serem alvo de edição nacional.
No entanto, a década de 90 estava a chegar e com ela tudo ia mudar...

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