Movimento hippie atual - artesões, BR, micróbios, camelôs e um modo de vida alternativo.
Certamente alguém já se deparou com algum cabeludo de dreads na beira da praia, em alguma calçada, feira alternativa ou em lugares inóspitos, vendendo artesanato. Em fim, atualmente apesar do visual e dos estereótipos, o que realmente vemos é uma segmentação do que foi a ideologia de contestação de valores morais impostos ou a ideologia do faça amor não faça guerra, tão difundido no auge da contracultura dos anos 60.
Atualmente os "ditos hippies"( ou malucos, como é comum se chamarem) da nova geração estão divididos em alguns segmentos - são os malucos de BR( hippies que costumam viajar de carona pelas estradas) os hippies micróbios ( esses, não têm nada da ideologia dos anos sessenta e podem ser de "BR" também), os hippies artesões (os que produzem e sobrevivem da arte, podem ser "BR" mas não micróbios, são o segmento que mais parecem com os hippies dos anos 60, podendo também viver em comunidades), os que vivem em comunidades e os camelôs que vendem todo tipo de objeto devido a necessidade de dinheiro, mas que não produzem nenhum tipo de arte, apenas revendem. É interessante notar que todos os segmentos estão inseridos um no outro, gerando uma certa dificuldade de ver os tipos existentes.
Certamente os mais antigos guardam algo da ideologia que criou o movimento nos anos 60, mas atualmente o que existe é um aumento dos hippies micróbios. Pessoas jovens e uns poucos mais velhos, que não tem nenhum tipo de compromisso com a sociedade, vivem o momento, mas não tem um planejamento maior sobre o que querem e muitas vezes são agressivos com quem não tem o mesmo estilo de vida que o deles, desrespeitam o lugar que estão, arrumando brigas e usando o artesanato para acobertar o tráfico de drogas ou outras atividades de caráter duvidoso, como o agenciamento de prostitutas* para os gringos. Certamente esse segmento envergonha quem realmente acredita e têm valores de contestação. Os micróbios muitas vezes estão em contato direto com a sociedade, pois dependem da venda de artesanato ou do tráfico de drogas para alimentar vícios e sobreviverem, são a maioria na beira da praia "mangueando" (tentando vender, caminhando por entre as pessoas nas barracas de praia) ou "na pedra" (como chamam o lugar em que se reúnem) expondo, misturado com os poucos "hippies artesões verdadeiros" e com os camelôs.
A maior diferença que pode se observar entre os micróbios e os outros "grupos" é o envolvimento com o contexto que o cerca. Os micróbios adoram crack e álcool, que usam como desculpa de que serve para desinibir e dessa maneira falarem mais na hora de tentar vender algo; Maconha ainda é usada, mas não fumam para ir vender pois é uma droga relaxante. Geralmente não produzem muito artesanato, ganham dinheiro com o tráfico de drogas e com agenciamento - de acordo com informações obtidas, uma porção de maconha que custa dez reais para um nativo é vendido por no mínimo cinqüenta reais pelos micróbios aos gringos. Outro detalhe: Quando arrumam confusão, rapidamente transformam uma peça de artesanato em arma. Quem já viu uma espada feita de bico de peixe ou uma adaga feita de espora de arraia sabe o perigo que elas oferecem se utilizadas para agredir. Também costumam mendigar dinheiro, parecendo pedintes. Parece ser aquela máxima que tudo tem seu lado ruim. Apesar de estarem bastante visíveis, os micróbios representam uma pequena porcentagem dentro do contexto geral.
A escolha de viver de maneira humilde, tirando da arte seu sustento, fica cada vez mais tentadora para quem quer uma vida mais ligada a valores humanos e espirituais, longe da correria da vida moderna - prova disso são as comunidades alternativas que existem em todo o mundo. Para quem sabe aproveitar, esse estilo de vida ainda é uma escolha encantadora, pois mexe diretamente com a noção de liberdade/responsabilidade e para quem tem planejamento a arte pode ser um bom caminho para driblar o desemprego e garantir uma vida digna.
* o caso de agenciamento de prostitutas pude observar várias vezes em Natal, na praia de Ponta Negra.
Luciano Dantas